
Em 2010, em algum canto de Niterói, a dentista Fátima
Pimentel carregava o primeiro filho na barriga. Mãe de primeira viagem, teve
que passar pela gravidez de risco deitada na cama. Poderiam ser nove meses sem
fazer nada de realmente útil, mas foi na verdade a virada na vida da
niteroiense. Depois que o marido chegou em casa com um livro para ajudar a
esposa a passar o tempo, um ciclo que culminou em quase 100 leituras em menos
de um ano teve início. E, meses depois, a dentista deu luz a duas vidas: o primogênito
e uma carreira como escritora. Em dezembro 2012, a dentista, que em menos
de um ano se tornou mãe e autora, resolveu disponibilizar na internet sua
primeira obra, “Não Pare”. Em janeiro de 2013, o livro entrou para os 100
livros mais vendidos na Amazon Brasil. Em 2015, com uma trilogia lançada, mais
de 12 mil e-books vendidos, top 3 da categoria “jovem adulto” há mais de dois
anos e primeiro lugar geral da Amazon Brasil, Fátima agora entra no mercado
editorial impresso com o lançamento de “Não Pare” na versão em papel, pela
editora Valentina. Assim como Beyoncé, que sobe ao palco incorporando “Sasha
Fierce”, Fátima escreve como FML Pepper. Mas enquanto a cantora americana deixa
Sasha para trás quando desce do palco, a escritora niteroiense hoje carrega FML
durante todo o tempo, sem se importar com o significado negativo que a sigla
tem em inglês.
“Eu sei o que é o ‘fuck my life’, mas não me incomodei,
porque são as minhas iniciais mesmo. Quando isso começou, uma amiga minha, que
é americana, até comentou, ‘ô Pepper, você sabe que isso pode até dar bem certo
aqui?’. Os jovens vão ficar encucados. E o Pepper surgiu porque no curso de
inglês onde eu dava aula mais jovem, virei Miss Pepper por causa do Pimentel,
do meu sobrenome”, explica.
De aparência franzina, delicada, Pepper surpreende pelo
“ritual” que tem para escrever, que, na verdade, nem é tão complicado assim.
Com copos de café para sobreviver à noite em claro, ela faz questão de não ter
gente falando por perto. Barulho só se for do fone de ouvido.
“Eu sou apaixonada por Bruce Dickinson, Iron Maiden. Pra
música eu gosto de rock “pauleira” mesmo, Ozzy Osbourne, Black Sabbath. Até
gosto de Sia, David Guetta, Imagine Dragons. Mas aí vai ficando muito
baladinha. Eu gosto de coisa assim, com batida, pesada”, diz.
FML garante que, quando botou o livro para venda na Amazon,
não imaginava que ainda partiria para o livro físico. A niteroiense conta que
até chegou a mandar a história para uma grande editora, recebendo como resposta
“um sonoro não”. Com o sucesso dos livros no plano virtual, a antiga ideia de
levar a trilogia para o impresso voltou a rondar a cabeça da escritora.
O primeiro livro eu escrevi com a maior calma. E o segundo
eu já escrevi sob uma certa pressão, com o pessoal cobrando, mandando e-mail
“tá, mas cadê a continuação?”. E o pessoal, os blogueiros perguntavam quando ia
sair no papel. Muita gente não estava lendo porque estava aguardando sair no
papel. Eu entrava nos blogs e via o pessoal comentando “todo mundo disse que
esse livro é bom, mas eu estou esperando sair impresso”. De 30 dos 35
comentários era isso”, relembra.
Segundo Pepper, aceitar a proposta da editora Valentina teve
muito a ver com os leitores, que fizeram campanha para levar “Não Pare” e seus
irmãos para as prateleiras das livrarias.
“Eu posso dizer que me rendi por causa dos meus leitores. No
dia do meu aniversário, eu abri minha caixa de entrada e tinha um monte de
e-mails, centenas de pedidos com “queremos ‘Não Pare’ no papel”, com hashtag e
tudo. Eu cheguei a achar que fosse um bug. Logo depois recebi propostas de três
grandes editoras”, conta.
“No virtual, como as pessoas não veem, não gera tanta
comoção. O físico gera. Eu acho que é parecido com aquela coisa quando você
oficializa uma união. As pessoas estão juntas há 20 anos, mas parece que a
sociedade gosta de ver aquela celebração para botar no papel. Para os meus
leitores, eu deixei de ser uma coisa meio fantástica para ser mais real”,
explica.
Não satisfeita com o sucesso na internet e a chegada ao
impresso, Pepper planeja, no futuro, levar a trilogia para os cinemas.
“É o sonho da minha vida. E vai virar realidade. Da mesma
forma que eu era nada e hoje cheguei até aqui, tenho fé que vou conversar com o
mercado americano e vou trazer isso pro Brasil. E ainda vou ter o orgulho de
dizer que sou a primeira niteroiense a conseguir isso”, acredita.
Pepper faz questão de rebater críticas de que ela não seria
nacionalista, e explica que imaginou “uma história do mundo”, uma vez que a
protagonista Nina passa por lugares como Nova Iorque e Amsterdã. Por isso
mesmo, a escritora espera que o filme seja gravado no exterior, com artistas
internacionais. O toque brasileiro ficaria por conta de José Padilha, diretor
de filmes como “Tropa de Elite”, e sonho de consumo dela para a direção do
filme.
“Eu já falei para o meu editor: se for o Padilha, eu aceito.
Ele tem uma noção de violência. A gente pega alguém que dê um toque feminino e
faz lá fora. Eu tenho o maior sonho, e acho que um dia vou conseguir. Nem que
eu esteja velhinha, de bengala, falando “é o meu filme””, planeja.
Assista a uma entrevista da autora sobre os livros "Não pare", "Não olhe" e "Não fuja."
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